• 07 Jun 2023

O impacto da tecnologia no agronegócio brasileiro

 

Panorama do setor  

O agronegócio é uma das bases da economia brasileira, responsável por aproximadamente 24,8% do PIB do país, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP) em um estudo realizado em conjunto com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que considera também a cadeia de valor relacionada ao setor - produtores de insumos, transportadores, comerciantes.  

De acordo com dados do Cepea/Esalq-USP e da CNA, o agronegócio registrou uma queda de aproximadamente 4,22% em seu Produto Interno Bruto (PIB) durante o ano de 2022, após ter alcançado um dos melhores resultados históricos nos últimos dois anos. Segundo o estudo, esse declínio ocorreu principalmente devido aos altos custos dos insumos, apesar do crescimento do faturamento real. No entanto, para 2023, o Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada (Ipea) projeta um cenário positivo, com uma estimativa de crescimento de 11,6% no indicador."  

Outros números relevantes do setor, é que se estima que em 2020 o Brasil forneceu alimentos para mais de 700 milhões de pessoas no mundo, de acordo com dados da Embrapa. Com a perspectiva de aumento populacional no cenário mundial, o agronegócio brasileiro terá um papel ainda maior na segurança alimentar. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), para erradicar a fome mundial, é preciso aumentar a produção em 70% até 2050.  

Segundo o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Corrêa Carvalho, a grande relevância do setor no contexto mundial advém do investimento, dentre outros pilares, na inovação tecnológica. Por isso, neste artigo, vamos falar sobre como a tecnologia está transformando o agronegócio brasileiro.  

 

O uso da tecnologia e o desenvolvimento do setor agrícola    

Assim como nos demais setores da economia, o desenvolvimento tecnológico tem desempenhado um papel fundamental na transformação do agronegócio, impulsionando a produtividade, a eficiência e a sustentabilidade no setor. Dentre os processos que a tecnologia otimiza no campo, destacamos alguns:  

A agricultura de precisão (AP) é uma maneira de gerenciar e controlar informações sobre as plantações, a fim de otimizar a produção. Nesse processo, a tecnologia é utilizada para coletar e analisar dados de forma precisa, facilitando a tomada de decisão. Na prática, a agricultura de precisão permite monitorar a nutrição do solo, realizar previsões de clima, otimizar a utilização de recursos e prevenir a presença de pragas, antecipando e minimizando os riscos nos processos produtivos e promovendo uma agricultura mais sustentável.  

A telemetria é uma ferramenta de monitoramento e gerenciamento por meio da coleta e análise de dados, que resultam em relatórios que são a base para melhorar o desempenho das máquinas agrícolas. Assim, é possível otimizar rotas e garantir que as operações sejam realizadas de maneira eficiente, além de permitir otimização para redução do consumo de combustível, o que resulta em menor emissão de resíduos e promove a sustentabilidade.  

A rastreabilidade dos alimentos é o registro por meio de tecnologia do histórico do processo de produção, do plantio à mesa. Realizar o rastreamento permite que os produtores tenham uma melhor gestão de sua cadeia de suprimentos e de seus processos logísticos. Consequentemente, é uma medida que garante a qualidade, sustentabilidade e a segurança alimentar dos produtos que chegam ao consumidor. Além disso, realizar esse registro garante que grandes empresas, com uma gama de fornecedores, consigam controlar melhor os dados de produção e manter-se em compliance.  

Tecnologias que continuam sendo tendências nos próximos anos  

 Outras tecnologias que auxiliam os produtores do agronegócio e continuam sendo tendência para a transformação do setor, são apresentadas abaixo. Essas tecnologias podem ser aplicadas em um ou mais processos mencionados anteriormente, além de serem frequentemente utilizadas em conjunto.  

  

Drones São aeronaves pequenas que geralmente possuem câmeras precisas e são controladas de forma remota. No agronegócio, são geralmente utilizados para monitorar as plantações através das fotografias tiradas.  

  

Internet das Coisas (IoT) São redes de dispositivos (objetos) que são capazes de se conectar e trocar informações por meio da internet de forma automatizada. Dentro do agronegócio, a IoT permite que o controle do campo seja realizado diariamente, mesmo que o produtor esteja fora dele.  

  

Blockchain É um banco de dados de informações, como um grande livro de registros digital, capaz de fornecer informações precisas e de forma rápida, sendo imutável e, consequentemente, seguro. No agronegócio, a tecnologia permite o registro de todas as informações dos processos produtivos, assim como da cadeia de suprimentos.  

  

Inteligência Artificial (IA) A inteligência artificial (IA) é a habilidade das máquinas de realizar tarefas complexas de maneira inteligente. No agronegócio, pode ser utilizada para gerar produtividade, previsibilidade, mapeamento de processos e redução de custos.  

  

Machine Learning É o aprendizado da máquina, por meio dele é possível criar modelos analíticos que podem ser replicados. O machine learning permite que os dados coletados no campo sejam classificados, identificando padrões nas informações que auxiliam na tomada de decisões, melhorando a produtividade da produção.  

Desafios para o desenvolvimento da agricultura digital: conectividade e custo de investimento  

Segundo dados de uma pesquisa realizada em parceria entre Embrapa, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), no ano de 2020, 84% dos agricultores, entre produtores rurais, empresas e prestadores de serviços de agricultura digital, utilizam pelo menos um tipo de tecnologia nos processos produtivos. No entanto, mais da metade deles afirmam que a tecnologia utilizada é a internet para atividades gerais, seguida de WhatsApp e Facebook para comercialização. Dessa forma, os grandes desafios para esse público, segundo dados da mesma pesquisa, são o custo de aquisição, considerado uma dificuldade por 67,1% deles. Em seguida, a conectividade, sendo apontada por 61% dos entrevistados como a ausência de infraestrutura de conectividade no campo, o que é uma dificuldade para o desenvolvimento tecnológico do setor. Além disso, 95% desses produtores gostariam de saber mais sobre a agricultura digital.  

Em entrevista para o Canal Rural, publicada em 28 de maio de 2023, a presidente da Embrapa, Silvia Massrurá, observou que esse ainda é um dos desafios para os pequenos e médios produtores rurais no Brasil e considera que a inclusão digital desses é o que falta para o Brasil entrar de fato na era da agricultura digital.  

 

O futuro do agronegócio  

 O futuro do agronegócio está sendo impulsionado por avanços tecnológicos significativos. O advento do 5G promete uma conectividade ampliada no campo e Agtechs são apontadas como uma grande aposta para impulsionar o desenvolvimento no setor agrícola.   

O 5G proporcionará maior conectividade no campo. O acesso à rede de maior velocidade otimizará todos os processos da tecnologia que mencionamos, mas o grande desafio é proporcionar infraestrutura que permita que o 5G funcione nesses locais. Segundo dados do Ministério da Agricultura, hoje 23% das áreas de plantio têm acesso à internet, mas o planejamento é que em 2029 todo o território brasileiro possua a infraestrutura necessária para utilizar a internet.  

As Agtechs são a grande aposta para impulsionar o desenvolvimento tecnológico no campo, principalmente em um cenário onde o 5G seja uma realidade. O número de startups especializadas em inovação tecnológica para o mercado agrícola obteve um crescimento de 7,5% no ano passado. Em geral, essas empresas conseguem entregar soluções mais rápidas e eficientes para as diversas necessidades desse mercado, além de contar com mão de obra capacitada em inovação e tecnologia no agronegócio. O Brasil está entre os dez países que receberam o maior capital investido, um total de US$ 1,3 bilhões (AgFunder 2021). Os dados podem ser encontrados no relatório Radar Agtech 2022 da Embrapa. 

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