Liberdade e Autonomia na Antecipação de Recebíveis de Cartão
Como a nova resolução do Banco Central revoluciona o processo, oferecendo maior controle e competitividade aos lojistas
Se você vende com a maquininha de cartão de crédito, provavelmente sabe que os valores a receber possuem um ciclo médio de 30 dias – para compras realizadas no crédito à vista – ou até mais – em caso de compras parceladas. Embora o dinheiro a receber esteja garantido, o ritmo de recebimento varia de acordo com o parcelamento das vendas, o que pode se tornar um obstáculo para gerenciar o fluxo de caixa.
Nesse contexto, a antecipação de recebíveis é uma operação muito vantajosa. Através dela é possível receber todas as parcelas de uma venda a crédito, por exemplo, em uma única vez, garantindo previsibilidade dos valores a receber e maior liquidez para seu caixa. No entanto a dependência da figura da adquirente para realizar a operação de antecipação nem sempre a tornava eficiente, quando falamos de taxas.
A Resolução n.º 4.734, que entrou em vigência no ano de 2021, trouxe importantes mudanças para o processo de antecipação de recebíveis, principalmente ao desassociar a operação da figura do adquirente. A possibilidade de realizar essa operação com outras instituições financeiras, permite mais liberdade e autonomia para empreendedores, aumenta a competitividade entre as condições ofertadas e torna o mercado mais democrático.
Como funcionava antes
A antecipação de recebíveis de cartão de crédito como um produto financeiro começou a ser oferecida no Brasil na década de 1990, porém essa operação estava restrita à própria adquirente, empresa responsável pela maquininha utilizada, ou a uma instituição financeira afiliada a ela. Devido à associação obrigatória, a taxa de juros oferecida era única e estabelecida por essa empresa, resultando em uma ausência de concorrência com outros bancos e fundos, o que consequentemente gerava taxas mais elevadas.
Além disso, mesmo que o valor antecipado não fosse a totalidade do valor do recebível futuro, todo o valor se tornava inegociável para outras operações e não podia ser utilizado como garantia de outras frentes de crédito para os lojistas.
Como funciona agora
A partir do ano de 2021 entrou em vigência a Resolução n° 4734, publicada em junho de 2019 pelo Banco Central, que estabelece as diretrizes para operações com recebíveis de cartão. Essa resolução tem como objetivo definir as condições e os procedimentos para desconto de recebíveis de arranjos de pagamento integrantes do Sistema de Pagamentos Brasileiro. Como resultado dessa resolução, tornou-se obrigatório o registro de todos os recebíveis
Assim surge a figura das registradoras, que são autorizadas pelo próprio Banco Central a realizar o registro da agenda de recebíveis de cartão da sua empresa, as feitas na maquininha ou aquelas realizadas de maneira online. Dessa forma, qualquer instituição financeira pode acessar a sua agenda e realizar operações através dela, mas isso só acontece mediante a sua autorização.
O processo de registro funciona assim:
A empresa da sua maquininha — adquirente — envia os dados das suas transações de vendas, até o próximo dia útil para as registradoras. Em caso de algum cancelamento de compras ou operações de antecipação realizadas com a própria adquirente, a mesma também deve enviar essas informações para a registradora.
Depois desse processo a registradora pode dispor das informações ao mercado para fins de negociação, mas é você quem decide as instituições que podem ter acesso às informações da sua agenda de recebíveis.
A partir disso, você pode acessar as condições de disponíveis nas instituições financeiras para quem você disponibilizou a sua agenda e definir quais recebíveis quer antecipar e receber o valor.
Os recebíveis antecipados são registrados pela registradora responsável, ficando indisponíveis para outras negociações de antecipação.
De forma simples, a mudança significa que a antecipação dos recebíveis futuros de cartão de crédito é desassociada da figura do adquirente. O lojista pode definir a instituição financeira com quem deseja antecipar seus recebíveis e escolhe a taxa ofertada mais adequada para o seu negócio. Além disso, acontece uma flexibilização da famosa trava bancária, ou seja, o valor total do recebível não fica mais travado e pode ser negociado em outras operações, com outras instituições.
Principais impactos para o lojista
— Centralização das informações da sua agenda de recebíveis e segurança.
— Autonomia para gerir o financeiro do seu negócio.
— Liberdade para negociar seus recebíveis de cartão.
— Acesso às melhores condições de taxas ofertadas.
Depois de todo esse papo, vamos deixar aqui alguns termos que você pode não ter entendido ainda, mas precisa, para saber tudo sobre o assunto.
Recebível — Dinheiro a receber das suas vendas realizadas via cartão.
Adquirente — Empresa que além de oferecer serviços relacionados com o fornecimento de maquininha de cartão, é responsável por intermediar as transações financeiras entre os estabelecimentos comerciais (lojistas) e as bandeiras de cartões de crédito e débito.
Arranjo de pagamento — Estabelecem as regras, os padrões e os procedimentos para o processamento das transações, incluindo a autorização, a liquidação e a compensação dos pagamentos. Eles também estabelecem as taxas e os custos associados ao uso dos cartões, e os principais responsáveis por definir essas regras é a bandeira do cartão.
Unidade de Recebível (UR) — Agrupamento das informações de transações realizadas por meio de cartão, se você realizou 5 vendas na maquininha, da mesma adquirente, mesmo arranjo de pagamento e no mesmo dia, elas são agrupadas, centralizando essas informações que se tornam uma UR.
Registradora — Empresa autorizada pelo Banco Central a realizar o registro de recebíveis.
Agenda de recebível — Todo o valor que o seu negócio tem a receber das vendas realizadas via cartão.
Trava bancária -É a garantia que você, como empresa, oferece ao banco quando precisa de crédito bancário. Depois da nova legislação, passa a ser chamada de Gravame.
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